18.3.08

Hotel Montebelo

No jornal “A BOLA” do passado sábado 15 de Março, na página 23, sob o titulo «Tudo Pago» pode ler-se:

«No acordo de cooperação ontem assinado pela Câmara de Viseu, Associação de Futebol de Viseu (AF Viseu), Visabeira e Federação Portuguesa de Futebol (FPF) ficou estabelecido que todas as despesas da Selecção tanto de alojamento como de alimentação, serão suportadas pela autarquia e pelos donos do Hotel Montebelo. Em troca, a comitiva portuguesa compromete-se a marcar presença numa cerimónia de felicitações promovida pela câmara e a fazer uma visita ao Palácio do Gelo, superfície comercial gigantesca com inauguração prevista para 15 de Abril e pertencente ao espólio empresarial da Visabeira. Os únicos encargos que a FPF terá referem-se às custas de alojamento da selecção da Geórgia e da equipa de arbitragem nomeada para o jogo de 31 de Maio, único ensaio do estágio e também o último antes de Portugal rumar à Suíça.»

Numa primeira observação somos, desde logo, levados a pensar que estamos perante uma grande operação de marketing turístico capitalizando o prestígio da Selecção Nacional e o momento pré Europeu de Futebol que faz mobilizar toda a comunicação social muito para além da especializada.

Quem não gosta receber bem estas figuras do desporto nacional que tantas alegrias têm dado ao País, compensando e até escondendo muita da miséria que por cá vai.

Mas, ao ler-mos que «...todas as despesas da Selecção tanto de alojamento como de alimentação, serão suportadas pela autarquia e pelos donos do Hotel Montebelo...», ressalta desde logo esta interrogação quem e quanto paga cada um ou se optaram por, somados os custos dividir por dois. Era bom que o País e os munícipes soubessem exactamente quem paga o quê e quanto nos vai custar este investimento turístico.

Subentende-se, da referida notícia, que a Selecção Nacional irá dar colorido à inauguração de mais um espaço «gigantesco» da Visabeira, o Palácio do Gelo completamente novo e construído no local onde se encontrava o outro que lhe deu o nome, será mais um atractivo da cidade coração de Portugal.

Desde a sua fundação que acompanho, com muita atenção, o funcionamento e crescimento do, agora, Grupo Visabeira e é com admiração que vejo o quanto têm feito pela grande região onde Viseu se insere.

Ao ouvir todos os dias, há uns tempos a esta parte, antecedendo os noticiários da TSF, a publicidade ao Hotel Montebelo, ao Golfe Montebelo, à MOB (fabricante de mobiliário de cozinha) fico, também eu que sou de Viseu, com orgulho na minha terra, satisfeito por haver quem aí invista, contribuindo dessa forma para conter o crescente desemprego, para o crescimento da região etc., mas isto tudo seria um exemplo a recomendar se eu não soubesse, desde os primórdios, que este grupo de empresas usa e abusa dos baixos salários, dos recibos verdes, do trabalho precário (e este assumindo múltiplas e ardilosas formas), do uso e abuso dos horários de trabalho, da pouca preocupação ao nível segurança, do pouco investimento na formação.

Ao crescimento, para ser sustentado, tem que se lhe associar o desenvolvimento e este só acontece com trabalho de qualidade, “bons” salários, direitos a quem trabalha.

A Visabeira, no meu entender, seria a primeira a ganhar alterando a forma como aborda as relações com os seus trabalhadores.

O facto de Viseu estar “longe” da Capital não quer dizer que aí as leis se apliquem em formato ligth e que esta empresa, por ter relações privilegiadas com a Câmara Municipal e com o seu Presidente não tenha, como outras, de prestar contas pelos seus actos.

Está a ser tempo de alguém questionar a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) acerca das suas actividades nesta empresa.


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